Silêncio

E às vezes calo-me…


Mas calo-me, não como quando a alma se faz em silêncio,
Em rio, e transborda,


Calo-me como a árvore que se curva ante a inevitabilidade do inverno, como as cores estéreis do deserto, como uma pobre criança abandonada.


Calo-me no silêncio, oco das palavras que não valem a pena serem ditas.


No silêncio estúpido e bestial que permeia a algazarra da multidão,


Calo-me no silêncio inútil do cansaço,
Na impotência do fracasso,
Na raiva calada e dolorida da derrota repetida.


Às vezes calo-me num silêncio feio, deforme, aleijado,


Silêncio que não é beleza nem contemplação, mas ausência.


Calo-me porque a luz não existe, e os ecos fecundos apagam-se.
Calo-me ante a verdade inegável da fraqueza das minhas pernas, de meus dedos enregelados,


Obstinado silêncio concreto e sólido.


Nesse silêncio imóvel e duro, não há esperança possível. Não há amanhã ou ontem, nem vislumbre do caminho

.
Quando me calo nesse silêncio frio, metálico, demasiado duro, imutável, desesperado,

As palavras são estéreis.


Já não há versos, nem poesia, a beleza e a fé falecem, serradas pela lâmina impiedosa e misericordiosas de um silêncio morto.


Às vezes calo-me, e tudo se aquieta, em espera.

Silêncio, silêncio...

Ausência de coisa nenhuma. Vida suspensa.


Silêncio, silêncio. Nada há. Um segundo pairando, imortalizado na eternidade.


Silêncio, silêncio...


Não tempo, não existência, não esperança. Nada há.


Apenas demasiadas confusões emocionais
1 Response
  1. Susana Francisco Says:

    O ditado popular o diz e é bem verdade "O silêncio vale ouro"!

    Um silêncio por vezes transmite tudo, não sendo preciso expressar qualquer tipo de palavras! :D

    Quem precisa de muitas palavras quando temos:
    -> um olhar;
    -> um sorriso;
    -> um afecto;
    -> um miminho...
    ...Para poder oferecer?

    =D


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    De onde nos estão a ver!